A Cibersegurança e o fim das senhas

À medida que a biometria continua ganhando popularidade como uma forma conveniente e segura de reconhecimento automatizado do usuário, a senha tradicional se tornará muito menos atraente para consumidores e empresas

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Por Diego Puerta

 

É novembro de 2050. Uma escola está fazendo uma excursão no museu que conta a história da revolução cibernética. Em algum momento, um aluno pergunta: “Professor, o que é isso?”, apontando para uma estranha combinação de letras, símbolos e números. “É uma senha”, explica a professora, “e seus pais a usavam para acessar basicamente tudo. Felizmente foram extintas há muito tempo”.

 

Em muito breve, você vai esquecer todas as suas senhas. Mais do que isso, você nem irá mais lembrar que elas existem. Isso porque já existem formas mais seguras e práticas para acessar aplicativos, dispositivos, serviços, o que for.  O total abandono do uso de senhas não é uma previsão futurística, e sim um processo que já está em curso – e será mais simples do que você pode imaginar.

 

Segundo um estudo realizado pela empresa americana Verizon, 85% das violações de dados em 2020 foram causadas uma interação humana. E um fato importante quanto a isso é que, na grande maioria dos casos, as falhas acontecem por descuidos das pessoas, e não por falhas em sistemas ou dispositivos. Então é extremamente importante que tenhamos muito zelo com a segurança dos (e nos) computadores para evitar consequências tanto pessoais quanto corporativas.

 

Ataques virtuais estão se tornando cada vez mais frequentes e sofisticados. Vazamentos de dados são rotina nos noticiários do mundo todo. Em março deste ano, a empresa de cibersegurança Syhunt revelou que mais de 10 milhões de brasileiros tiveram suas senhas expostas nos últimos anos. E esse número deve ser muito maior do que isso, já que o estudo só conseguiu monitorar nos dados vazados os e-mails terminados em “.br”, ou seja, usuários de Gmail ou Hotmail, por exemplo, não foram contados. São notícias como essa que mostram que a a biometria e certificados digitais, por exemplo, se consolidam como processos mais seguros e eficazes.

 

Além disso, devemos concordar que senhas geralmente são um incômodo, principalmente porque precisamos ter muitas delas – o que envolve criar e lembrar de uma série de requisitos específicos para combinações consideradas “fortes”. No Brasil, até temos um bom índice com relação a criar senhas fortes em comparação a outros países, de acordo com um apontamento da NordVPN. Mas a mesma pesquisa apontou que os brasileiros pecam em adotar hábitos simples que ajudariam a garantir mais privacidade e segurança de seus dados.

 

De acordo um estudo sobre uso biométrico da Dell Technologies, realizado nos EUA, criar, lembrar e alterar regularmente senhas é considerado um aborrecimento para 62% dos trabalhadores. Além disso, outro estudo da empresa, chamado Brain on Tech descobriu que, em todo o mundo, quando os usuários precisam acessar um computador e se deparam com uma senha longa e difícil sob pressão de tempo, seu estresse aumentou 31% em cinco segundos e continuou a aumentar mesmo depois que os usuários fizeram login com sucesso.

 

Esses resultados reforçam que, para a maioria de nós, manter “bons hábitos” com senhas não é prioridade; é, em vez disso, um problema. Se pensarmos em reutilizar a mesma senha repetidamente, usar combinações fracas ou anotá-las, muitos de nós estamos fazendo exatamente o que nos foi dito para não fazer, colocando nossa privacidade em risco. Para aumentar a segurança, as organizações normalmente exigem que os funcionários atualizem as senhas regularmente e aderem aos requisitos mínimos para criar senhas fortes. No entanto, isso não impede que os funcionários comprometam a segurança dos dados por conveniência.

 

À medida que a biometria continua ganhando popularidade como uma forma conveniente e segura de reconhecimento automatizado do usuário, a senha tradicional se tornará muito menos atraente para consumidores e empresas. Além disso, a tecnologia que permite a biometria continua avançando com melhor tecnologia de sensores e o uso de algoritmos de correspondência baseados em inteligência artificial. Isso resulta em uma melhor experiência do usuário, ao mesmo tempo em que melhora o modelo de segurança.

 

Dado que as pessoas já entendem o quão importante é a proteção de todo e qualquer dado, estão dispostas a usar novas formas de autenticação – inclusive no trabalho, aproveitando os recursos de segurança biométrica nos PCs –, há uma oportunidade real para a adoção da biometria continuar crescendo em todos os setores, especialmente à medida que a Geração Z faz cada vez mais parte da força de trabalho. Esses nativos digitais cresceram acostumados a usar leitores de impressões digitais ou reconhecimento facial em seus smartphones e provavelmente não pensariam duas vezes antes de usar a mesma tecnologia em seus PCs, notebooks e qualquer outro dispositivo. É hora de as organizações reavaliarem como estão lidando com a segurança nos equipamentos dos seus funcionários e considerarem incorporar a biometria para o próximo ciclo de atualização do PC.

 

Ainda temos um caminho a percorrer até que as senhas sejam totalmente abandonadas, mas à medida que a tecnologia biométrica se torna mais sofisticada e amplamente adotada, é apenas uma questão de tempo até que possamos esquecer com felicidade todas aquelas senhas complicadas sem comprometer a segurança. Enquanto isso, há maneiras simples de todos nós sermos “Cyber Smart” e manter nossos dados seguros sem ter que passar por todo o estresse das senhas, como utilizar um gerenciador de senhas para criar combinações fortes e armazená-las em um local seguro e aproveitar a autenticação de dois ou mais fatores, bem como certificados digitais, para verificação de identidade e comunicação segura.

 

A tecnologia está cada dia mais presente em nossas rotinas, o que é uma mina de ouro para os mal-intencionados. À medida que tomamos rumo para um futuro sem ter que lembrar ou criar combinações de letras, números, letras maiúsculas e caracteres especiais, devemos entender que o processo é real, que carece de investimentos e conscientização, prezando a segurança e comodidade. Mas, definitivamente, as senhas não deixarão saudades.

 

*Diego Puerta, líder da Dell Technologies Brasil

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